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domingo, 6 de dezembro de 2015

NA MOITA DO ARRANHA GATO - FRANCIS PEROT


NA MOITA DO ARRANHA GATO


A vida é realmente cheia de momentos bons, ruins e alguns até engraçados! Um dia fui surpreendido com algo aparentemente estranho para a minha idade, que não passava de onze anos. Na cidade de Pereira Barreto, interior de São Paulo, numa das fazendas do lado norte da cidade eu estava no mato procurando um bom cabo para colocar numa enxada quando fui surpreendido por um barulho estranho de correria e gritos:
_Vamos pegá-lo antes que ele chegue no rio Tiete.
Confesso que fiquei um pouco assustado com toda aquela parafernália, no meio do mato. Logo me dei conta que se tratava de uma meia dúzia de soldados da polícia militar que estavam na captura de um bandido que tinha fugido da prisão.
_Menino viu alguém passar por aqui?
_Não senhor.
_Fique atento é bom você voltar pra sua casa.
_Certo senhor vou fazer isso.
Eu ainda não tinha encontrado o que estava ali procurando, mas voltei assim mesmo. Confesso um tanto receoso. O importante era não me arriscar, pois estar ali naquele mato poderia ter alguma surpresa se encontrasse aquele ser que me causava certa repulsa.
No caminho de volta quando eu já tinha me afastado uns duzentos e cinquenta metros dos policiais, na trilha por onde eu havia de passar tinha uma moita de arranha gato. Ela é conhecida assim por causa de seus espinhos bem parecidos com as unhas dos gatos e uma vez você conseguindo entrar nessa moita fica difícil de sair, porque você tem a sensação de estar sendo puxado para dentro dela. Como eu ia dizendo, ao passar ao lado da moita levei o maior susto ao ouvir uma trêmula voz:
_ Ei menino! Ajude-me a sair daqui da moita...
Uma grande moita de espinhos e o cara estava bem no meio dela e aparentemente sem condições de sair. Notei que o mesmo se encontrava todo arranhado.
_Depressa me ajude...
Agora eu me encontrava diante de um dilema, aquele sujeito me pedia ajuda e pela descrição era o bandido fugitivo da cadeia. O medo tomou conta de mim, mas eu por causa de minha consciência precisava tomar uma decisão. Eu não conhecia o tal sujeito e tão pouco sabia o que ele havia praticado. Tinha eu em mãos um facão de cortar cana o qual poderia usar e cortar os galhos da moita e assim facilitar a sua saída. No entanto eu tinha medo de que ele depois me fizesse algum mal ou até mesmo me matasse. O sujeito percebeu o meu medo e também a minha desconfiança e logo foi me dizendo:
_Menino me ajude. Eu não vou te fazer mal algum, tão somente preciso sair daqui e continuar a minha jornada.
Uma sensação tomou conta de mim me proporcionando um estado de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa e ao mesmo tempo por me sentir ameaçado fisicamente. Tal situação fazia-me tremer como uma vara verde, mas exigia conscientemente de mim que eu tomasse uma atitude.
Sempre fui ensinado a fazer o que é correto e praticar o bem, mas aquela situação era nova para mim e se eu negasse a ajudar aquele homem estaria sendo covarde. Também se eu gritasse aos policiais, correria o risco de ser marcado por aquele bandido, ou por um impulso ele poderia sair daquela moita e me matar. Passava muitas coisas por minha cabeça. Mas o que seria realmente o certo para ser fazer naquela situação? Talvez hoje depois de quarenta anos eu fizesse a mesma coisa. Peguei o meu facão com firmeza e com alguns golpes limpei o caminho para o homem sair da moita de arranha gato e me agradeceu saindo correndo imediatamente,
Eu continuei a minha caminhada de volta pra casa com minha cabeça cheia de pensamentos. Confesso que ainda sentia algum medo. Eu não havia nem de perto praticado uma boa ação, mas também não sabia como realmente agir diante daquela situação. 
Em meu caminho de volta ao sair numa estradinha de terra encontrei três viaturas da policia e dentro de uma delas se encontrava o tal sujeito. Seu olhar me acompanhava enquanto eu passava. O infeliz não teve a sorte de se safar. Ainda bem, pensei comigo mesmo. Foi melhor assim. Cada um tem que pagar pelos os seus feitos e lugar de bandido é na cadeia...


Francis Perot 

http://www.recantodasletras.com.br/contospoliciais/5471688